Por: Eduarda Rosa
Em pleno século XXI ninguém quer
ficar de fora do acesso as tecnologias, inclusive os idosos. Imagine então ser
analfabeto em meio a um turbilhão informações ao seu redor... Foi por conta
deste contexto que uma pesquisadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do
Sul (UEMS) descobriu que muitos idosos, que não tiveram a oportunidade de
aprender a ler e escrever, estão procurando a Educação de Jovens e Adultos
(EJA) para poder entrar neste mundo pós-moderno.
A pesquisa de mestrado da acadêmica
da UEMS, de Paranaíba, Silvana Cosmo Dias, intitulada “A Formação Identitária
do Sujeito Idoso: Memória e Letramento”, orientada pela professora Drª. Silvane
Aparecida de Freitas, revela que os idosos estão interessados em aprender a ler
não só para ir ao supermercado e realizar leituras na igreja, mas também
para dominar o sistema de informação virtual nos caixas eletrônicos dos bancos
e viajar, enfim, serem ativos na sociedade contemporânea.
Isto se deve a melhoria das condições
de vida das pessoas, que contribuiu para o envelhecimento da população. De
acordo com as Nações Unidas (Fundo de Populações), em 2012, uma em cada nove
pessoas no mundo tem 60 anos ou mais, e estima-se um crescimento para um em
cada cinco por volta de 2050.
Histórias
de vida
Durante a
realização do trabalho, foi selecionada a entrevista de três idosos, duas
mulheres e um homem que não tiveram seus nomes divulgados. Elas, de 65 anos,
moradoras antigas na região de Santa Fé do Sul, São Paulo, não tiveram
oportunidade de estudar antes, pois residiram grande parte de suas vidas em
fazendas. Já o homem, de 60 anos, morava em Cassilândia, também não havia tido
chance de estudar, mas, motivado a renovar a Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) foi para a sala de aula.
Ao
contarem suas histórias, os três idosos entraram em contradição, pois disseram
que a vida foi boa sem estudo, mas que sem estudo não era bom viver. Segundo a
pesquisadora, esta contradição revela a necessidade de garantir o próprio
equilíbrio, pois eles têm em si o discurso de que, sem estudo, não são
completos na sociedade atual.
Observou-se
na investigação que a ausência do saber ler é definida por uma relação de
poder, no qual o conhecimento implica na capacidade do sujeito tomar decisões
no cotidiano com autonomia e liberdade. O idoso iletrado acaba se vendo como um
expectador da vida, incapaz, excluído e incompleto.
De acordo
com Silvana Cosmo Dias, “o idoso está como expectador de um mundo marcado
pelo exagero da informação que o atrai, o entusiasma e provoca o deslumbramento
pelo domínio da linguagem escrita. Assim, ele é tomado pelo desejo de
completar-se por meio da escrita, que, de certa forma, produz efeito de sentido
de contemplação do mundo ‘letrado’, porém vazio de significados”.
A análise
também apontou que a velhice, por si só, traz a exclusão social e a
alfabetização é vista como uma forma de incluir os que antes não
conseguiam decifrar as palavras.
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