quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Entrevista Augusto Cury: Dourados faz parte da minha vida

entrevista desta semana do Dourados News é com o médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Augusto Cury - Foto: Ademir Almeida
Eduarda Rosa
A entrevista especial desta semana é com o médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Augusto Jorge Cury, que foi concedida exclusivamente aoDourados News, durante sua vinda ao município na semana passada, para palestrar.
Já no início da entrevista ele ressaltou que Dourados fará parte de sua história, pois durante estadia na cidade finalizou seu 37º livro, intitulado de “Pais inteligentes formam sucessores e não herdeiros”.
Durante a conversa também falou sobre temas como ansiedade, qualidade de vida, o papel da escola, emoções e uma prévia do novo livro.

"Não há céu sem tempestades, nem caminho sem acidentes" - Augusto Cury - Foto: Ademir Almeida
Dourados News: Qual livro mais te marcou?
Augusto Cury: Terminei a 37ª obra "Pais inteligentes formam sucessores e não herdeiros" aqui em Dourados, é para comemorar, hein! Agora Dourados faz parte da minha história.
Cada livro é um filho e cada filho você tem uma paixão, um cuidado e ao mesmo tempo você tem uma série de retornos. Mas alguns livros mexeram com as raízes da minha emoção como a trilogia, “O vendedor de sonhos” (que é uma saga psiquiátrica e vai se tornar filme), “O Futuro da Humanidade”, que também vai se tornar filme. O livro “O Código da Inteligência” foi lido por 50 a 10 milhões de pessoas – também tem me trazido muita alegria, porque as pessoas agora entenderam que o “Eu” que representa a capacidade de gestão, deve não apenas administrar uma família, uma empresa ou uma cidade, mas deve administrar a própria mente, para que possamos ser autores da nossa história e não vítimas das nossas mazelas e conflitos.
E o livro que lancei recentemente “Ansiedade: como enfrentar o mal do século” também trouxe muita alegria, se tornou rapidamente um dos livros mais vendidos do país.
D.N. : Ansiedade é um piores maus para o ser humano? Como lidar com ela?
Cury: A ansiedade é o mau do século, principalmente a ansiedade decorrente de uma síndrome que eu tive o privilégio de descobrir e a infelicidade de saber, que grande parte da população é acometida por ela, chamada Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Como sou psicoterapeuta e em especial pesquisador da mente humana, desenvolvi uma das teorias mundiais que estuda o processo de construção de pensamentos, a formação do “Eu” como autor da própria história, os papéis conscientes e inconscientes da memória e o processo de formação de pensadores. Ficou muito evidente para mim que a construção de pensamento deve estar de baixo do gerenciamento do “Eu”, deixar a mente solta pode levar a um pensamento excessivo e altamente estressante que é uma verdadeira bomba para a saúde emocional, a criatividade, a leveza, a serenidade e o altruísmo.

Invernos e tempestades, aplausos e rejeições fazem parte da vida de cada ser humano.

— Augusto Cury

Reitero, pensar é bom, pensar com consciência crítica é ótimo, pensar de mais leva a hiperprodução de pensamentos e consequentemente a síndrome SPA. E os sintomas são bem evidentes: sofrer por antecipação, pequenos problemas têm um impacto muito grande, dores de cabeça, dores musculares, fadiga ao acordar, déficit de concentração, irritabilidade, dificuldade de lidar com pessoas lentas, além disso déficit de memória – que é muito característico. Isto tudo forma a síndrome do pensamento acelerado.
A ansiedade deve estar atingindo pelo menos 80% da população mundial, das crianças aos da terceira idade. Uma das ferramentas que nós preconizamos é criticar, confrontar e impugnar cada pensamento perturbador no exato momento que ele aparece, isso produz a higiene mental.
Se nós demorarmos mais do que 5 segundos os pensamentos perturbadores, pessimistas, mórbidos ou antecipatórios são registrados por um fenômeno inconsciente chamado RAM (Registro Automático da memória) e não podem ser mais deletados, consequente a memória vai se tornando um depósito de lixo. E é por isso que uma criança de 7 anos de idade tem mais informação que o imperador romano tinha no auge de Roma. Mas informações que não são utilizadas como tijolos para desenvolver ideias brilhantes, raciocínio complexo, uma capacidade de interação ou de filtrar estímulos estressantes.
Palestra reuniu mais de mil pessoas - Foto: Ademir Almeida
O excesso de informação estimula uma agitação mental sem precedentes, levando as pessoas a perder o prazer de viver, a se encantar com a vida, a não conseguir dar respostas brilhantes em situações estressantes e a ter uma série de sintomas psíquicos e psicossomáticos. Por isso é fundamental enfrentar o mal do século: a ansiedade decorrente da falta de gerenciamento do “Eu” sobre a mente humana.
D.N. : Como ter qualidade de vida em meio a rotina estressante?
Cury: Infelizmente, a humanidade está adoecendo rápido e coletivamente, e os números são assustadores: 50% da população mundial, ou uma em cada duas pessoas ou mais de 3 bilhões delas cedo ou tarde desenvolverão transtorno psiquiátrico, só isso é assombroso; 80% das pessoas estão apresentando sintoma da SPA; 80% dos executivos são demitidos não por falta de competências técnicas, mas falta de habilidades emocionais; 45% dos jovens em idade de vestibular estão apresentando sintoma da depressão; 25% dos jovens de uma maneira geral estão com perda do prazer de viver, dificuldade de contemplar o belo, dificuldade de se colocar no lugar do outro e de trabalhar perdas e frustrações; 80% ou mais dos jovens estão apresentado sintoma de timidez.

Quem ama corrigir falhas e criticar está preparado para lidar e conviver com máquinas...

— Augusto Cury

Tudo isso reflete que tomamos o caminho errado na era digital, na era do smartphone, na era da internet.
Então é muito difícil ter qualidade de vida na atualidade, mas há uma série de ferramentas como criticar cada ideia perturbadora no exato momento, mas outra é contemplar o belo, fazer muito das pequenas coisas, ou seja, aprender a fazer da vida um espetáculo.
Outra ferramenta é não ser escravo do que os outros pensam de fato de nós – quem financia sua paz em função da cabeça dos outros, da crítica, da ofensa ou da rejeição dos outros tem uma dívida impagável com a sua qualidade de vida.
D.N. : A escola cumpre seu papel?
Cury: As escolas do mundo todo estão erradas, não é só no Brasil. No Brasil nós sabemos que nos testes de matemática e interpretação de texto estamos em média nos últimos lugares, mas em relação as funções mais complexas do intelecto e da emoção, todas as escolas do mundo todo estão endividadas, estão com os mais baixos níveis de maturidade.
Não formamos seres humanos que tenham um caso de amor consigo mesmo, não formamos seres humanos que tenham um choque de lucidez com estímulos estressantes, não formamos seres humanos que são conscientes dos seus papéis vitais, aliás, usamos a palavra “eu” de uma forma muito banal: eu faço, eu quero, eu realizo.

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Cury terminou de escrever seu 37º livro em Dourados - Foto: Ademir Almeida
O nosso “eu” é frágil, mal trabalhado, mal equipado da pré-escola ao mestrado, ao doutorado e pós-doutorado. Se o seu ‘eu’ não gerir a sua mente você vai errar no essencial, vai acertar no trivial, mas no essencial você vai falhar.
D.N. : Como reverter isso?
Cury: Estamos desenvolvendo a Escola da Inteligência e há cerca 200 mil alunos que já estão trabalhando desde a mais tenra infância os códigos da inteligência, uma aula por semana dentro da grade curricular: aprendendo a proteger a emoção.
Estamos preocupados em formar uma nova geração de mentes brilhantes, porque a humanidade falhou, ela falhou flagrantemente, até hoje nos classificamos entre brancos e negros, entre intelectuais e letrados, entre judeus e palestinos, é um absurdo... somos apenas uma única espécie.
D.N. : O que é a matemática da emoção?
Cury: Quem ama corrigir falhas e criticar está preparado para lidar e conviver com máquinas, mas não para formar mentes brilhantes. Infelizmente, muitos de nós temos defeitos na personalidade ou no processo educacional, porque aprendemos a matemática numérica, mas nunca aprendemos a matemática da emoção.
Na matemática da emoção dividir é aumentar, se você divide os seus problemas, se você fala das suas lágrimas, você vai ensinar os seus filhos e alunos a chorar as deles; se você fala dos seus fracassos e se é o dono de uma empresa, ou professor, falando dos seus fracassos você vai levar os seus liderados a entender que ninguém é digno do pódio se não usar suas derrotas, os seus vexames para conquistar os seus mais belos sucessos. E que a vida é cíclica, cedo ou tarde nós choramos ainda que não com lágrimas úmidas, mas com lagrimas secas.
Invernos e tempestades, aplausos e rejeições fazem parte da vida de casa ser humano.

O diálogo está morrendo...

— Augusto Cury

D.N. : A tecnologia dos celulares ao invés de facilitar a comunicação pode estar prejudicando-a?
Cury: Jovens e adultos do mundo todo não sabem namorar, querem resultados, não tem prazer na trajetória... é um desastre sem precedentes! São viciados em smartphones! Não pense que só cocaína, crack e outras drogas nos “sequestram”, hoje somos especialistas em criar fenômenos devastadores, um deles é o celular, os smartphones.
Steve Jobs quando, em 2007, lançou o Iphone não imaginava que crianças e adolescentes fossem ficar o dia inteiro, que adultos não desgrudassem daquele aparelho... dois jovens um na frente do outro não sabe falar “téte a téte”, conversam por mensagensO diálogo está morrendo no mundo todo.
A entrevista foi concedida exclusivamente ao Dourados News - Foto: Ademir Almeida
D.N. : Do livro que acabou de escrever, “Pais inteligentes formam sucessores e não herdeiros”, qual a diferença entre sucessores e herdeiros?
Cury: Todo ser humano é herdeiro, mesmo as pessoas que foram abandonadas pelos seus paissão herdeiros da carga genética. Outros são herdeiros da ética, dos valores, da cultura e ainda outros são herdeiros do afeto, do amor, da capacidade dos pais de investir tudo o que tem, mesmo não tendo recursos financeiros. E ainda outros recebem ações, fazendas, carros, casas, dinheiro como bens.
Mas há muitos tipos de bens, só que os herdeiros são torradores, são gastadores irresponsáveis, enquanto os sucessores preservam, enriquecem esses valores.
Os herdeiros são imediatistas, vivem de baixo de um mecanismo de recompensa imediata, querem tudo rápido e pronto; enquanto os sucessores pensam a médio e longo prazo, eles sabem que as melhores vitórias são construídas através de um processo, eles adiam o prazer rápido e fugaz para um dia mergulhar nas fontes excelentes da satisfação.

Os sucessores dão sempre uma nova chance para si mesmos, mesmo quando falham com a vida, eles nunca desistem, porque sabem que o sucesso não é imediato, o sucesso é sonhado.

— Augusto Cury

Os herdeiros acham que todas as escolhas implicam em ganhos; os sucessores têm consciência que todas as escolhas implicam em perdas, eles têm que perder a preguiça mental, o conformismo, a sua irritabilidade, para conquistar pessoas, para abrir a sua mente, para inventar, para se reinventar. Os sucessores dão sempre uma nova chance para si mesmos, mesmo quando falham com a vida, eles nunca desistem, porque sabem que o sucesso não é imediato, o sucesso é sonhado.
Os herdeiros são atentos a beleza e poesia da gratidão; os sucessores se curvam em agradecimento, agradece ao garçom que serve, manda recado a cozinheira que nós nunca vemos, dá um abraço no porteiro, no manobrista.
Os sucessores honram a vida com espetáculo; os herdeiros são faltos nessa área nobre.
Os sucessores são capazes de olhar para os seus filhos e dizer: obrigado por existirem, é um privilégio ter você como seu pai ou sua mãe.


Publicado em: http://www.douradosnews.com.br/especiais/entrevistas/entrevista-com-augusto-cury 

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