sábado, 5 de maio de 2012

Em camelódromos, mulheres dominam território, sem perder a ternura


Dona Zilah visita as amigas do camelô - Foto: Eduarda Rosa
Eduarda Rosa
Pia, fogão, tanque, cuidar dos filhos e da casa. Esse era o papel da mulher, porém as mudanças da sociedade fizeram com que ela deixasse o lar e buscasse também um emprego fora de casa, para ajudar na renda da família.
E elas foram sem medo! Vemos isso ao caminhar pelas ruas e observar o comércio de Dourados, cidade de quase 200 mil habitantes, sendo 96.274 mil homens e 99.761 mil mulheres, dados esses do censo demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

E esse número de mulheres também pode ser visto em lojas menores, como nos camelódromos. Pois, entre bonecas, carrinhos, lanternas, jogos de tabuleiro, bolas, barbantes, bolsas, cobertores e outros objetos lá estão às mulheres, em grande maioria, trabalhando para complementar a renda ou até mesmo sustentar sua família.
Camelódromos em Dourados - Foto: Eduarda Rosa
Em um conjunto de camelôs localizados na Rua Joaquim Teixeira Alves, em Dourados, são cerca de 10 mulheres e quatro homens trabalhando em seus pequenos negócios. Durante entrevista, alguns homens destacaram a presença das mulheres, que assim como eles, estão trabalhando para ganhar um dinheiro a mais. Muitos escolheram este tipo de comércio ou por serem considerados “velhos (as)” para o mercado de trabalho ou para poderem trabalhar com horário flexível e cuidar dos filhos.
Essa é a realidade de grande parte da população de homens e mulheres na luta pela sobrevivência no dia a dia! Assim, em um ambiente alegre e amistoso foi possível “bater um papo” com diferentes mulheres e alguns homens e saber um pouco mais de suas histórias e o que os levou a trabalhar ali, confira:

As batalhadoras do camelódromo

Sandra Gomes- Foto: Eduarda Rosa
“Sou o pai da casa”
Sandra Gomes, de 44 anos, trabalhava como diarista, mas não perdeu tempo, concluiu o ensino médio no ano passado e pensa em fazer a faculdade de Serviço Social. “Cansei de ser empregada doméstica e há apenas quatro meses trabalho aqui, pois cuido da minha mãe e meu filho, eu sou pai da casa! Acho até que vou ter que arrumar um emprego para complementar à renda de casa, pois as vendas estão baixas”, relata Sandra.
Carmen Ferreira Valenzuela - Foto: Eduarda Rosa
A famosa Carminha
Com dificuldades de encontrar um emprego no mercado formal Carmen Ferreira Valenzuela, 51 anos, há10 anos comprou um camelô, para complementar a renda de sua casa, mas alega que, “não dá para viver só com o dinheiro daqui, tanto que também faço peças de crochê para vender”.
Carminha se considera “a dinossauro do camelô”, conta que durante a década, que trabalha no mesmo local, sempre lutou pelo bem do grupo, “porque todos que estão aqui estão tentando a sobrevivência e aqui é só para os fortes, os fracos não aguentam, são derrotados. Eu mesmo fico aqui direto, das 7h às 18h”, reflete com bom humor “a dinossauro”.
Ali pelo menos todos são “no mínimo colegas de trabalho”, como diz Sandra Gomes, porém a amizade não é só por parte dos colegas, mas também com os clientes!
Visita
Dona Zilah Batista Nascimento, de 81 anos, mora no Rio de Janeiro, mas todo ano, próximo ao dia das mães vem visitar o filho e não deixa de vir tomar um chimarrão com as amigas do camelô.
Alzeni Carlos Moraes e Romildo Moraes - Foto: Eduarda Rosa
O casal 24 horas
Alzeni Carlos Moraes, de 54 anos, e Romildo Moraes, de 57 anos, compraram o camelô há dois anos. Ela conta que foi criada aqui, em Dourados, mas morou 33 anos em São Paulo com o marido e quando ele se aposentou voltaram em 2004.
Têm filhos já casados, mas apesar da aposentadoria do marido, os dois trabalham juntos no camelô para ter uma renda melhor e também para se distraírem, “comecei a entrar em depressão então decidimos montar um negócio para termos uma atividade diária”, conta Alzeni.
Ela conta que não é fácil trabalhar ali das 8h às 18h, já seu marido Romildo Moraes, disse que para ele o trabalho é uma forma de não ficar ocioso em casa “para mim é um divertimento, mas não está fácil, há quatro meses as vendas caíram muito”, lembra Moraes.
Elma Arguero Cardoso - Foto: Eduarda Rosa
“Faço o que gosto”
“Faço realmente o que gosto, sou do ramo, trabalharia 24 horas” (risos). A alegre Elma Arguero Cardoso, de 53 anos, foi vendedora ambulante por muito tempo e resolveu comprar o camelô, há quatro anos, para trabalhar. Tem dois filhos adultos, mas as vendas do camelô complementam o orçamento doméstico, “as vendas estão fracas, mas da para continuar na batalha, é uma luta diária!”, ressalta Elma.
Jorge Joaquim dos Santos - Foto: Eduarda Rosa
O pioneiro
Um dos poucos homens que aceitaram contar um pouco de sua história foi o aposentado de 72 anos, Jorge Joaquim dos Santos, que trabalha em camelôs há 25 anos e há 11 anos no mesmo local. Mesmo aposentado ele conta que tem necessidade de trabalhar.
Como um dos mais antigos do ramo, destaca a importância da harmonia no ambiente de trabalho, “agora que não fazemos muito, mas fazíamos muitas reuniões, almoços, pois aqui somos pelo menos colegas de trabalho. Acho importante lutarmos pela união do grupo, ainda mais que agora tem muitas pessoas novas, somos pessoas simples e honestas que batalham para sobreviver. É difícil o nosso dia-a-dia, porque não temos horário de almoço; se trabalhar ganha, senão fizer não ganha; além dos grandes comerciantes ‘engolirem’ os pequenos. O que conquistei nesses anos foi devagar e com muito trabalho!”, lembra.
Nilda Mendes dos Santos - Foto: Eduarda Rosa
A prendada
A tímida Nilda Mendes dos Santos, de 43 anos, que somente após muita insistência aceitou conversar com a reportagem, montou seu camelô há apenas três meses e além dos produtos tradicionais expõe para venda seus trabalhos artesanais. “Faço decupagem em caixas, por encomenda, e trabalhos com biscuit, mas as pessoas não dão valor ao artesanato local”, lamenta Nilda.
Não apenas pessoas com mais idade procuram essa forma de emprego alternativo, mas também mulheres jovens que pensam primeiramente em estarem presentes no crescimento de seus filhos.
Vanessa de Melo Silva e João Vitor - Foto: Eduarda Rosa
“Cria da Casa”
O pequeno João Vitor, de três anos, é filho de Vanessa de Melo Silva, 28 anos, que montou seu camelô a cerca de quatro anos. “Quando comprei aqui estava grávida de cinco meses e aqui é bom porque posso ficar com meu filho o dia todo, ele é praticamente nascido aqui!”
Vanessa começou a trabalhar para complementar a renda de seu marido, “não ajuda tanto, mas dá para ir levando. Gosto muito do que faço, me acostumei, e o melhor de tudo mesmo é ficar com meu filho e não deixá-lo com estranhos”, contou.
Evilin Alves- Foto: Eduarda Rosa
A jovem trabalhadora
Evilin Alves, 21 anos, começou a trabalhar aos 14 anos e se casou aos 15. Hoje com um filho pequeno, há cinco meses comprou o camelô, pois “antes eu vendia bolsas, mas estava procurando um negócio que eu pudesse ter horário próprio, pois esse foi o primeiro ano que consegui vaga na creche para meu filho”, disse.
Assim como a situação dos outros personagens, ela também trabalha no camelô para complementar a renda familiar, mas segundo ela “o importante é estar presente na vida do meu filho, mesmo trabalhando e ele indo para a creche, consigo ficar perto dele e acompanhar o seu crescimento”, enfatiza a jovem.
Mulheres e homens que “matam um leão” por dia para sobreviverem. Esta é a história de vida de muitos brasileiros, que temos contato todos os dias, seja em uma loja, hospital, feira, restaurante ou escola, mas a pressa e correria do dia-a-dia, muitas vezes, não nos proporciona perceber histórias como essas que estão tão próximas a nós!













































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