domingo, 13 de maio de 2012

A "tia da van" e sua história de luta, na vida e no trânsito douradense


Jussara em sua van - Foto: Eduarda Rosa
Eduarda Rosa
“Ser mãe é uma benção, é tudo de bom! É um milagre a formação de um bebê dentro de você, é uma coisa que não tem explicação! Uma nova pessoa que vem de dentro da gente, vai criando dentro da nossa barriga e você pega amor, desde lá de dentro, já tem aquela expectativa de que está vindo um bebê, e vai crescendo dentro de você. E quando começa a se mexer dentro da sua barriga é mágico, é bom de mais, é uma benção!”

Essa é a fala emocionada da mãe de Lucas, Guilherme e Joyce, Jussara Marques da Silva. Além de assumir a tarefa de cuidar de seus filhos transporta diariamente 60 pessoas, em sua van escolar, a maioria delas criança. “Eu falo para as crianças, ‘aqui vocês tem que obedecer a tia como se você a sua mãe’, pois eles são como meus filhos também, tenho que mostrar e dar educação a eles”, lembra Jussara.
Jussara percorre cerca de 150 quilômetros por dia, com sua van de transporte escolar, nas ruas de Dourados, há 14 anos. Além ser mãe de Lucas, de 13 anos, e Guilherme, de dois anos, também tem como filha a sobrinha Joyce, de 13 anos. Cuida da mecânica de sua van, como se fosse uma filha, zela da casa, do almoço e de sua cachorrinha, Julinha.
Nascida em 1972, Jussara teve uma infância curta, porém inesquecível, “não esqueço das brincadeiras na fazenda do me avô”, lembra ela. Mas desde cedo começou a trabalhar, ajudava a mãe antes de arrumar um emprego, “pois como sou de família humilde, tinha que ajudá-la a tomar conta do bar e mercearia que ela tinha, porque meu pai era alcoólatra. Mas graças a Deus nós tínhamos o sustento que vinha do bar, contudo trabalhávamos noite e dia, principalmente nos finais de semana”, disse ela.
Jussara com sua Família - Foto: arquivo da família
Aos 14 foi trabalhar em um supermercado, a situação era difícil, nesta época parte do salário era trazido em compras para casa, depois aos 19 anos conseguiu um emprego melhor. Em 1995 se formou em matemática e realizou o seu sonho de dar aula, contudo foi por apenas dois anos, “além de ter que trazer muito trabalho para a casa, a maioria desses alunos, de hoje em dia, não tem educação, não respeita, só falta bater nos professores em sala de aula”, conta Jussara.
Depois disso surgiu a oportunidade de trabalhar de van aí ela encontrou uma amiga e viraram sócias, “eu tinha um fusca e ela tinha uma moto, nós vendemos e compramos uma combi e assim a gente começou o transporte escolar. Fomos sócias no primeiro ano, mas no segundo ano já não teve a sociedade, eu comprei a parte dela e ela comprou outra combi, e agora cada uma trabalha com seu  carro”, lembra.
Pãe
Jussara foi pai e mãe por muito tempo, pois se casou com 19 anos, mas aos 26 anos engravidou pela primeira, “contudo foi justamente na época em que me separei e comecei a trabalhar na van, naquela época foi difícil demais! Daí quando o Lucas tinha um ano e dois meses veio a Joyce para eu cuidar, ela tinha um ano e oito meses. Então tive que criar dos dois sozinha, sem pai, Deus me deu gêmeos! Então eu os criei como gêmeos, os dois eram da mesma idade, estudavam na mesma série, foram para a creche juntos e fiz eram o primeiro aninho também juntos”, fala Jussara.
Guilherme com a cachorrinha, Julinha. - Foto: Eduarda Rosa
Comenta que no começo foi muito puxado, pois para complementar a renda, naquela época, ela também fazia entrega de folhetos de lojas e supermercados “era muito sacrificado, porque a gente trabalhava dia e noite, e no final de semana íamos para as cidades próximas, andávamos mais de 200 km por dia, com a van. Hoje eu estou no paraíso, porque faz dois anos que parei de entregar os folhetos”, disse.
Há cinco anos casou-se com Sérgio e então veio a “rapinha do tacho”, Guilherme, que tem dois anos. “Depois que o Guilherme veio parece que renovou a responsabilidade de ser mãe! Parece que quando a gente fica mais velha tem mais cuidado, não é que lá atrás eu tinha menos amor e agora tenho mais, é que hoje aprendi a criar com mais direção. Quando você é mais nova parece que não é tão responsável, agora mais velha, pois quando ganhei ele tinha 38 anos, parece que a gente cuida mais”, disse a mãe da Guilherminho, como ela carinhosamente o chama.
Rotina no trânsito
Jussara tem uma rotina milimetricamente calculada, para que nenhum dos alunos que transporta se atrase, assim acorda às 5h da manhã, para ir trabalhar, nesse período deixa Joyce cuidando de Guilherme, que está dormindo, pois seu marido também sai cedo. Depois volta às 7h30 e vai cuidar da casa e organizar o almoço, pois quando é 11h tem que ir buscar as crianças no colégio e volta depois das 13h, “nisso aí eu já levo o Guilherme na casa da minha sogra, já deixo ele almoçado lá, para ir para a escola e a tarde faço a manutenção do veículo”, lembra ela, que complementa que às 17h vai buscar as crianças na escola e já começa a buscar os acadêmicos para irem à faculdade, vai para a casa às 19h30 e depois das 22h volta buscá-los.
A família gosta muito de viajar e viver aventuras - Foto: Arquivo da família
“Sou mãe, dona de casa, tenho que cuidar da manutenção do carro, nessas oficinas mecânicas 'da vida'...” (risos) diz ela, bem humorada.
“É muita responsabilidade trabalhar no transporte escolar, principalmente neste trânsito de Dourados, mas eu já acostumei, pois para mim é uma benção saber que tenho que trabalhar, porque eu gosto do que faço e faço com amor! Quando eu dava aula, comecei com amor, amava dar aula, mas quando vi que não era o que eu queria, vi que os alunos não tinham um ‘pingo’ de respeito pela gente, larguei as salas de aula, justamente, porque eu perdi o amor. Daí surgiu esta oportunidade de trabalhar com a van e eu faço com amor, tanto é que o carro dificilmente quebra, porque eu cuido do que eu tenho, pois é disso que eu vivo”, disse a motorista.
E ainda aconselha “tudo na vida tem que ser feito com amor, nunca faça o que você não gosta, se você se formar e falar ‘eu não gosto deste ramo’, parta para outro, faça o que você gosta! Faça o seu trabalho com amor, porque assim ele prospera!”.
Jussara com sua mãe, Valdelira da Silva Marques - Foto: Arquivo da família
Ser mãe
“Ser mãe é uma benção é tudo de bom!”, como disse Jussara, ela finaliza falando que para a mãe de verdade os filhos sempre estão em primeiro lugar, tudo o que se faz é pensando neles.
Para ela, mãe tem que ter muita responsabilidade “não é só ter responsabilidade, mas ter muitaresponsabilidade! Tem tanta mulher que não é mãe e morre de vontade de ser mãe, por que é bom de mais, não tem explicação! Eu faria qualquer coisa pelos meus filhos, daria até a minha própria vida, pois eles são tudo na minha vida!”, disse ela emocionada, e complementa “ah se todo mundo pensasse desse jeito não existiria as mães que soltam os filhos por aí, bebezinhos em latas de lixo. Credo! Acho que isso não é mãe, isso é um animal, um bicho, sei lá. Isso não é mãe não, ser mãe é bom de mais!”, disse Jussara com convicção.













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