quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Economia

Criatividade que rende $$$

Complementar a renda com trabalhos manuais é a opção de muitas pessoas que estão desempregadas ou endividadas


Por Eduarda Rosa

Doreni Freitas Machado, de 46 anos, trabalha de diarista em duas casas, na feira do BNH 1º plano; na feira livre de Dourados; e na loja de economia solidária para sustentar a si mesma e ao irmão desempregado. Faz sapatinhos de crochê e lembranças em madeira. Por meio da loja de economia solidária consegue cerca de R$270 por mês, sem tirar o gasto com materiais, com esse dinheiro faz a compra mensal para casa, “pois o dinheiro das diárias são ‘picados’, e esse é o único dinheiro que eu ganho inteiro”, afirma. Doreni tem um diferencial de alguns outros artesãos, não porque sabe mais do que faz, mas por saber de economia. Fez um curso no Sebrae e sabe exatamente o quanto tem que cobrar de cada item que vende “os sapatinhos de linha eu gasto 1h e 30min para fazer e vendo a nove reais, o de lã eu levo 3h e vendo também a nove reais, tirando os materiais e a porcentagem da loja eu ganho R$2,40, e ainda damos desconto de 10% ao cliente, não posso cobrar mais caro, pois tenho concorrência aqui dentro da loja mesmo”, diz Doreni.
Doreni vende os sapatinhos de bebê que faz, na loja de
 economia solidária do Shopping Avenida Center
Muitas pessoas produzem, mas não sabem como cobrar o justo de seus clientes, o economista Fábio Castilho fala que para saber exatamente quanto se gastou e quanto teve de lucro não tem outro jeito se não colocar na “ponta do lápis”, “é preciso saber o que tenho de fazer para ter esse produto, se compro por semana ou estoco em casa, quanto tempo para fazer o produto, quanto tempo de validade e também qual é a estrutura que se precisa”.
Somando a criatividade e o trabalho em conjunto pode-se resultar em renda para muitas famílias menos favorecidas, através da chamada economia solidária, que segundo Paul Singer, economista da Universidade de São Paulo (USP) e  idealizador da economia solidária no Brasil é “uma economia que trabalha em coletivo e é suprafamiliar (pessoas que não são da mesma família), pois em grupo favorece-se a mais pessoas, além de ser um exercício de cidadania. Combate o desemprego, e é uma alternativa para fortalecer um grupo de pessoas. Assim o lucro não é o foco e sim a produção bem realizada para a pessoa se auto sustentar”.
Usando a definição de Paul Singer, Cândida Propheta Erbano, coordenadora da Elos - Incubadora de Empreendimentos Econômicos Solidários e Sustentáveis, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Uems, diz que a metodologia usada para incubação de cooperativas é de “planejamento e implantação de empreendimentos solidários, mobilizando trabalhadores para a geração e distribuição de renda, é um procedimento que gera a competência e a autonomia dos grupos sociais”. Com assessoria da Elos, há três anos, trabalhadores de um lixão de Maracaju conseguiram montar uma cooperativa, fizeram cursos profissionalizantes, tanto teóricos como práticos, “todos entendem de todo o trabalho, mas cada um faz sua parte, são solidários uns com os outros e dividem a renda com respeito, já estão quase independentes”, afirma Cândida.
Jacira mostra sua produção de
 toalhas bordadas com fitas
Cândida conta que em Dourados as pessoas preferem trabalhar individualmente, como é o caso de Jacira Cordeiro da Silva, que viveu por mais de vinte anos só da renda de artesanatos e o trabalho de pedreiro de seu marido. Hoje, mesmo aposentada, está sempre procurando novas tendências para inovar. Mora em uma chácara próxima a Dourados, e ali rodeada de artesanatos, produz toalhas, panos de prato bordados e tapetes de crochê, mas não são as únicas coisas que sabe fazer, já fez caminhos de mesa, bonecas, bichinhos de pelúcia e biscuit. Com seu trabalho ganha em média R$200 por mês e com isso já conquistou para sua casa uma geladeira, jogo de cozinha e jogo de quarto. Jacira também trabalha em parceria com amigas artesãs, que trocam habilidades, “enquanto minhas amigas pintam alguns tapetes e toalhas para mim eu bordo tapetes para elas”, conta.
Jacira aproveita bem o espaço de sua chácara para fazer economia, cria galinhas, peixes e tem uma horta, tanto para vender como para consumir, assim como Regina Célia Gaigher, funcionária pública aposentada que também usa a produção de sua chácara para complementar sua renda fazendo doces e temperos. Produzindo doces de leite, ameixa, maracujá, goiaba, mamão, abóbora, coco, cachorrada e também pimentas em conserva, Regina consegue em média dois mil reais mensais, porém sem tirar as despesas. Vende suas compotas, há um ano e meio, na feira livre e na feira do BNH 1º Plano, de Dourados, diz que gosta de inventar, “com higiene e capricho a clientela se fideliza, e sempre que sugere algo novo eu logo testo, e se dá certo comemoro”.  Regina tem planos de construir uma cozinha só para fazer doces e se regularizar.
Regina aprendeu a fazer doces por meio de um curso que comprou, com DVDs e apostilas, mas muitas pessoas aprendem com amigos ou em projetos sociais, como o da Primeira Igreja Batista em Dourados, o Infobol, que dá oportunidade a crianças de bairros carentes a aprenderem informática, música, pedicure, manicure e artesanato. A professora de tricô, crochê e bordado, Tereza Bagordache Franco, diz que o principal objetivo é que os alunos aprendam e façam para vender, “temos uma aluna que no frio deste ano já ganhou um dinheirinho fazendo cachecol e xale”, afirma.
Muitas pessoas também procuram projetos da prefeitura que em parceria com a Secretaria de Assistência Social e de Agricultura, Indústria e Comércio ajudam as pessoas a terem uma melhor renda. O Secretário de Agricultura, Indústria e Comércio, Maurício Peralta, disse que a secretaria adquire através do banco de alimentos, a produção da agricultura familiar, como mel, doces, leite, legumes e verduras, a preço de mercado, e distribui isso para as entidades carentes, “temos parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) , Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural)  e Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que proporcionam cursos a esses produtores”. A secretaria de assistência social, por meio dos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), que existem em cada bairro da cidade, promovem cursos de artesanato, como tear e cestaria, onde as pessoas são incentivadas a venda das peças produzidas.
Há diversas formas de aumentar a renda, para saldar as dívidas e ter uma vida melhor, afinal fazer trabalhos manuais é um trabalho digno, mas não há dados exatos que comprovem o número que essas vendas contribuem para a economia do município, pois conforme o economista Fabio Castilho constatou “esse valor oscila muito, pois geralmente a pessoa começa a fazer artesanato, mas se consegue um trabalho formal que vai ganhar o mesmo que ganha como artesão, ela para de fazer o artesanato”. Complementa que não tem como ter controle sobre esse número, pois as pessoas aprendem e fazem em suas casas, muitos começam e desistem.
O planejamento é fundamental para não se endividar, mas se já está endividado ou não é qualificado para o mercado de trabalho, use suas habilidades, aprenda coisas novas, mude de ramo, se preciso for, e assim tenha uma melhor qualidade de vida! 


Planejamento na Ponta do lápis
A educação financeira e um bom planejamento familiar podem levar as pessoas a realizarem seus desejos e objetivos, mas é necessário fazer planos, sendo eles em:
Curto prazo: O que você quer adquirir em tempo rápido, conforme a sua renda familiar ou individual. Exemplo: Televisão, computador, máquina, etc.
Médio prazo: Efetuar a compra de bens tangíveis. Exemplo: veículos, motos, etc.
Longo prazo: Comprar a tão sonhada casa própria, que geralmente são prazos longos, e realmente precisa de um planejamento.
O economista Fábio Castilho, dá algumas dicas. “O importante é anotar todas as entradas (receitas/Renda) e saídas (despesas variadas), pode-se utilizar um bloco de anotações”, as perguntas a baixo ajudam a organizar o orçamento:
1)      Qual é a sua renda familiar ou pessoal?
2)      Quais são as suas despesas fixas, variáveis, extras e adicionais?
3)      Quais são suas metas curto, médio e em longo prazo?
4)      Quais são as minhas prioridades pessoais?
5)      Preciso aumentar a minha renda? Como? O que as pessoas podem pagar para eu fazer?
6)      Como fazer para economizar?



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