quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A arte das palavras

Por Eduarda Rosa e Marcela Alves

É com as palavras que o cronista, José Pereira Lins, tem vivido a mais de 89 anos, ao lado de sua esposa, Dona Isabel, em uma casa simples eaconchegante na área central de Dourados.As palavras dos mais de 10 mil livros de sua biblioteca particular trazem a ele o amor, a sabedoria, aventura, consolo. Levado por elas como quem é arrastadopela correnteza de um rio, foi levado ao mar do ensino, e lecionou por 48 anos. Com dez livros de autoria própria ele diz que “a literatura é antes de tudo uma arte que vive do momento embora possa ultrapassar séculos. A literatura é a arte que se expressa através da palavra. Para ser literatura a escrita tem que ter certa graça, certo suspense, também representar os anseios da sociedade”.

Mesmo no sossego de sua casa, Lins demonstra o seu jeito clássico de ser, vestindo camisa listrada, calça social e um belo suéter cinza nos braços. O despojamento fica por conta da confortável sandália de dedos nos pés, afinal estamos em casa. Sentado em sua poltrona de estofamento verde, que combina com a cor das cortinas, José conta com orgulho como foi sua trajetória de vida.
José Pereira Lins nasceu em São José do Ipiranga na Paraíba, no dia 05 de fevereiro de 1921, e teve uma infância comum, de menino nordestino pobre. Um pouco mais crescido veio para o Mato Grosso, e por aqui permaneceu. Criou cinco filhos, quinze netos e oito bisnetos. Nas paredes da saladeestar, os retratos ilustram sua herança familiar e o amor por sua esposa Isabel, a quem ele considera como o maior presente que Deus lhe deu.
Apesar da idade avançada tem uma memória muito boa, memória de quem tem como lazer a leitura, de quemfoi professor desde os tempos de colégio, e educou meio século de profissionais por intermédio de sua própria escola, Osvaldo Cruz, em Dourados. Na lembrança guarda os bons momentos, como o de receber o título honorífico de Cidadão douradense, Doutor Honoris Causa e fazer parte da Academia Douradense de Letras.
Também teve o prazer de conhecer todas as capitais brasileiras, criadas antes da constituição de 1988. Segundo ele “as viagens nos enriquecem espiritual, histórica e emocionalmente, nos faz conhecer gente boa”, e mesmo conhecendo tantos lugares diferentes, considera seu próprio lar, um lugar inesquecível.
A inspiração para escrever suas crônicas literárias é a vida social, é essa vida que “é um dom de Deus, que não nos pertence, nós não nascemos porque queremos nascer, nem morremos porque queremos morrer, é um dom de Deus por isso ninguém em sã consciência quer morrer”.

Assim como no jeito de se vestir, Lins conserva o gosto pelo clássico também na música. Gosta de ópera, música erudita e hinos. Conheceu a esposa em um culto de igreja, onde ela cantava em um coral. Ao longo dos 62 anos de convivência, Isabel sempre o presenteou com clássicos tocados por ela ao piano e órgão, que hoje adornam um dos cômodos da casa.

O andador no meio da sala é o sinal de que o tempo passa e que a qualquer momento um apoio pode ser necessário. Com um passado de lutas, ele agora só quer usufruir dos bens que Deus lhe deu, “a minha vida foi uma vida de ocupação. Não tenho do que me queixar. Uma vida de lutas, trabalho, muitas vitórias, uma vida feliz, que eu não temeria se retornasse a viver de novo”.

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