terça-feira, 28 de junho de 2011

Reciclagem


















Eduarda Rosa

A população mundial tem substituído a banha animal pelos óleos vegetais em sua alimentação, porém o consumo tem aumentado a cada ano, o que agrava tanto a saúde das pessoas quanto o problema ambiental, quando esse óleo não vai para reciclagem.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a produção mundial de óleos vegetais cresceu aproximadamente 400% entre 1974 e 2007. E os óleos mais utilizados são o óleo de palma (dendê) e de soja.

Até quando utilizar o óleo?
Mas um problema que acontece antes do fator ambiental é até quando esse óleo pode ser utilizado sem prejudicar a saúde do ser humano. O Doutor em Física e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS, Rony Gonçalves de Oliveira, fez, em sua tese de doutorado, uma pesquisa para saber a respeito da degradação de óleos vegetais que são utilizados no processo de fritura. O principal problema é o uso industrial, pois os óleos são elevados a altas temperaturas, entre 180 e 200 graus Celsius, por longos períodos e de forma repetida. “Nesse processo, muitas vezes, o óleo é submetido a uma série de reações químicas, e essas reações químicas são introduzidas no óleo, gerando também uma quebra das moléculas dele, o resultado é a formação de um monte de compostos de degradação no interior do óleo. Esses compostos de degradação à medida que vão se acumulando na composição do óleo vão tornando-o inadequado para o consumo”, explica Oliveira.
O Doutor em Física, Rony Gonçalves de Oliveira,
 pesquisa até quando o pode ser utilizado para consumo

Esse problema agrava quando o objetivo é comercial, pois a dona de casa cuidadosa não usa o mesmo óleo por muito tempo, isso acontece pelo alto consumo de produtos industrializados. “Com o passar dos anos o brasileiro,  vem ingerindo uma quantidade cada vez maior de gordura e com procedência duvidosa, e muitas vezes nós consumimos coisas que são prejudiciais a nossa saúde e
 não temos condições, nem ferramentas para detectar esses problemas”, comenta o Doutor em Física.
Mas por enquanto no Brasil não existe nenhuma legislação que trate do uso abusivo do óleo, como existem em alguns países, principalmente da Europa. Neste sentido a proposta da tese do professor Rony Oliveira é “o desenvolvimento de técnicas baseadas em propriedades físicas que possam medir a evolução dessa degradação do óleo, para estabelecer um limite para esses produtos”.
Um dos testes, realizados pelo referido professor, usa a luz, que é um parâmetro físico chamado de índice de refração, se traduz simplesmente na “dificuldade que a luz tem de atravessar determinado meio material, então o óleo à medida que vai sendo degradado, vai se observando que ele vai ficando mais escuro, denso e viscoso, então a luz ao atravessar um óleo mais degradado tem mais dificuldade de atravessá-lo, do que teria em atravessar um óleo novo”, explica Oliveira.

O que você faz quando o óleo fica velho?
Ao responder tal questionamento considere as seguintes alternativas: opção “A”: jogar no ralo da pia ou opção “B”: reutilizar na fabricação de biocombustível e sabão? Se você assinalou a opção “A”, fique sabendo que a cada litro de óleo descartado na natureza um milhão de litros de água é poluído, se assinalou a opção “B”, muito bem, você está ajudando a natureza!
O Biólogo e Mestre em Ecologia e conservação, Vanderlei Berto Júnior, explica que quando o óleo atinge o solo pode causar a sua impermeabilização, “o óleo forma uma camada e  acaba  contribuindo  para a impermeabilização do solo, isso dificulta a entrada de água nas camadas mais profundas no lençol freático, podendo provocar enchentes, por  exemplo, dificulta o ciclo normal da água, e pode impedir a passagem de oxigênio para as camadas mais profundas do solo, causando a morte de organismos, por falta de oxigênio”.
Além da impermeabilização do solo o grande e mais famoso problema que envolve o óleo é a poluição da água, pois se ele alcançar o lençol freático vai acabar contaminando o rio, e consequentemente o mar. Além de tornar a água não potável, o óleo pode causar morte de animais e plantas aquáticas. “O óleo boia na água, devido à densidade diferente, isso dificulta a oxigenação da água, então os organismos da água podem morrer por asfixia, a fotossíntese das algas podem ser prejudicadas, além de diminuir a evaporação da água, por ter uma camada de óleo na superfície da água”, explica o Mestre em Ecologia e conservação.

Rachel Dias deposita o óleo velho no
 ‘papa óleo’ do supermercado
O que fazer com o óleo usado?
Como já foi dito pode-se fazer sabão ou biodiesel, mas onde depositar esse óleo? Alguns supermercados de Dourados, como São Francisco, Extra e Carreiro recebem esse óleo da população e repassam para empresas que fazem o biodiesel.
A servidora pública, Rachel Dias, é um dos exemplos de cidadãos que depositam o óleo usado no papa óleo, ela passou a depositar ali depois que começou a frequentar o mercado, mas antes ela dava para sua empregada fazer sabão.
A Biocar Biodiesel é a empresa receptora da maioria do óleo recolhido em estabelecimentos comerciais da cidade, ela arrecada apenas 30 toneladas por mês em Dourados, o resto cerca de 700 toneladas, tem que comprar dos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, onde existem ONGs que fazem a coleta.
Anderson Vieira, do departamento Financeiro da Biocar Biodiesel, conta que “a empresa tem uma responsabilidade ambiental, ainda maior porque ela esta mexendo com um produto que seria jogado fora, no lixo, a primeira preocupação é tirar esse óleo do lixo e transformá-lo em biodiesel”.
Processo final para tirar toda a água do óleo
O processo de transformação do óleo de fritura em biodiesel não é tão complicado: quando o óleo chega à empresa tem que ser separado, pois ele vem com resíduos, impurezas, umidade (porcentagem de água dentro do óleo), é adicionado um antioxidante,  depois feito um processo com algumas máquinas e começa a sair o biodiesel. Nesse momento é separada a glicerina, que é usada em alguns produtos, como sabão, e sobra o biodiesel que se revende como combustível, que é adicionado ao óleo diesel.
A empresa também tem o cuidado de retirar o máximo de água do óleo, que é tratada e devolvida ao rio. Uma curiosidade destacada pelos técnicos da Biocar é de que se a água sem tratamento for jogada diretamente na terra ela se torna preta e improdutiva.
O Rotary Clube Guaicurus, de Dourados/MS, está em parceria com a Biocar, e criou o Projeto “Óleo Amigo do meio ambiente”, a cada 4 litros de óleo usado troca-se por 1 litro de óleo novo.
Mas existem pessoas que destinam o óleo usado diretamente para pessoas que produzem sabão, é o caso de Edna Maria Vasconcelos, que usa na fritura de salgados em sua sorveteria e conveniência cerca de 24 litros de óleo por mês. Ela doa para várias pessoas que o transformam em sabão líquido ou em barra, como é o caso de Maria Aparecida de Menezes dos Santos, “eu reaproveito tudo, vou juntando o óleo de cozinha e reaproveito fazendo um sabão bem econômico”.


Sustentabilidade
Mas o que significa Sustentabilidade? Significa tentar viver agredindo o mínimo possível a natureza como explica o Biólogo e Mestre em Ecologia e conservação, Vanderlei Berto Júnior, “É contaminar, poluir e utilizar de maneira racional os recursos naturais, ou seja, eu posso usar o óleo usado pra fazer sabão, o óleo usado para fazer biodiesel, e não mais desgastar o solo para produzir mais cana, para fazer o biodiesel, ou ainda extrair petróleo para fazer diesel”.
E o óleo de cozinha tem tudo a ver com a questão sustentável, aliás, até de administração e de saúde pública, pois o óleo que vai para o esgoto pode entupi-lo, e quando não é possível usar máquinas para desentupir os canos são usados produtos químicos para limpar, e esse será mais um contaminante que irá chegar ao rio e ao mar.
Afinal, como brinca o professor Vanderley Júnior, “ninguém é xiita, ninguém precisa se amarrar em árvore para agir de maneira sustentável, são coisas simples de se fazer”. Com ações fáceis pode-se contribuir para a conservação do planeta, então não tente escoar pelo ralo um problema que vai se multiplicar ainda mais no futuro, não tente misturar o que não se mistura!

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