terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Observatório Solar era “aplicativo” de índios brasileiros há mil anos

Por: Eduarda Rosa | Postado em: 12/01/2016

O Observatório Solar Indígena da UEMS faz parte do catálogo de Centros e Museus de Ciência do Brasil
Saber a previsão do tempo, a época de plantar, colher ou ter filhos é muito fácil com os conhecimentos e as tecnologias atuais, mas há cerca de mil anos, no sul do Brasil, não era tão simples ter estas informações. Então índios brasileiros criaram o Observatório Solar e com este “equipamento”, formado basicamente de pedras, eles poderiam saber as respostas das perguntas anteriores e muitas outras.
“Se fosse hoje, o Observatório seria uma espécie de aplicativo de celular, em comparação devido as utilidades que ele tinha”, disse o professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Edmilson de Souza. Tantas são as curiosidades por trás deste dispositivo, que a UEMS tem um Observatório Solar Indígena, na sede em Dourados, que faz parte do catálogo de “Centros e Museus de Ciência do Brasil 2015”, uma publicação com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Segundo o pesquisador, Paulo Souza da Silva, o Observatório Solar é um monumento para observação do cotidiano. Os indígenas precisavam disso, porque dependiam da natureza para a sobrevivência. "Era uma espécie de relógio que os Guarani usavam para vários fins, como festejos, medição das estações, para saber quando tinham que plantar ou colher, quando era o melhor período para pesca, caça e até mesmo para fazer mudança de uma região para a outra. Com isso, podiam fazer previsões e criar cronogramas até para a concepção de bebês", explicou.

Como funciona?
Este equipamento foi criado pelos povos Guaranis, do Paraná. Isto porque eles perceberam que o Sol sempre nasce a leste e se põe a oeste, contudo notaram algo mais: que dependendo da estação do ano, o Sol nasce mais próximo do Sul ou do Norte.
Como pode ser observado na figura, eles faziam um círculo e o dividiam em várias linhas (norte/sul, leste/oeste, noroeste/sudeste, sudoeste/nordeste). Observando, eles perceberam que no verão o dia dura mais, pois o Sol nasce e se põe mais próximo ao Sul (espaço em azul na figura). E no inverno o nascer e o pôr do sol são mais pertos do Norte, então o dia dura menos (espaço em marrom). Já no outono e primavera, o dia e a noite tem o mesmo tempo, pois o nascer e o pôr do Sol acontecem mais próximos a linha Leste-Oeste.
As observações dos movimentos do Sol podem ser percebidas por meio da sombra de uma haste vertical – chamada de gnômon -, que fica no centro do Observatório, para determinar o meio dia solar, os pontos cardeais e as estações do ano.
O professor, Paulo da Silva, explica no vídeo como funciona o Observatório: 
                   
O programa Stellarium (http://www.stellarium.org/pt_BR/) tem diversos recursos que faz em segundos o que os indígenas demoram anos para constatar e confirmar. Veja o vídeo de uma demonstração de como funciona o programa: https://www.youtube.com/watch?v=-MPC9UDjJDI&feature=youtu.be

 Nascer e pôr do sol em cada estação do ano - Fonte: O céu dos índios de Dourados/MS - Editora UEMS

Lado Religioso
Além das utilidades para a vida na aldeia, o Observatório também tem significados místicos e religiosos. No centro do círculo, o gnômon, representa uma divindade que está apontando para o céu, para a moradia do deus supremo, o chamado Nhande Ru Ete, este criador do céu e da Terra. Os pontos colaterais são os deuses inferiores que ajudaram Nhande Ru Ete na criação do Universo e da Terra.
Para os Tupi-Guarani, o Sol é o principal regulador da vida na Terra e tem grande significado religioso. Todo o cotidiano deles está voltado para a busca da força espiritual do Sol. (Para saber mais curiosidades clique aqui)

Visitação
O Observatório Solar Indígena da UEMS fica em frente ao prédio do Bloco A, sede administrativa da Universidade em Dourados. Neste ano, acontecerão visitas programadas com instrutores.

Produzido pelo Projeto Mídia e Ciência UEMS (Fundect)



Curiosidades sobre o Observatório Solar Indígena

Por: Eduarda Rosa | Postado em: 12/01/2016

O livro O Céu dos Índios de Dourados - MS traz importantes informações sobre o assunto
Além de utilidades cotidianas, o Observatório Solar Indígena também é rodeado de  curiosidades reliogiosas e místicas:
Sol & Lua
A primeira unidade de tempo utilizada pelos índios brasileiros foi o dia, medido pela alternância do dia e da noite. Depois veio o mês, medido por duas aparições consecutivas da mesma fase da Lua. 

Formato
O formato do Observatório Solar Indígena lembra o da organização das ocas nas aldeias, assim facilitando até o conhecimento geográfico do local, para casos de fuga.

Representação Religiosa
Na cultura Guarani, Nhande Ru Ete (Nosso Pai Sagrado) criou quatro deuses principais que o ajudaram na criação da Terra e de seus habitantes.
O zênite (gnômon, a haste apontada para o céu) é o domínio do deus maior da etnia considerada;
Os pontos cardeais são os domínios dos quatro deuses que o auxiliaram na criação do mundo e de seus habitantes;
  • O Norte é Jakaira Ru Ete, deus da neblina vivificante e das brumas que abrandam o calor, origem dos bons ventos.
  • O Leste é Karai Ru Ete, deus do fogo e do ruído do crepitar das chamas sagradas.
  • No Sul, Nhamandu Ru Ete, deus do Sol e das palavras, representa a origem do tempo-espaço primordial.
  • No Oeste, Tupã Ru Ete é deus das águas, do mar e de suas extensões, das chuvas, dos relâmpagos e dos trovões.
Os pontos colaterais são domínios das esposas desses deuses.

Calendário Guarani
O calendário Guarani está ligado à trajetória aparente anual do Sol e é dividido em apenas duas estações do ano: o ara pyau (ou tempo novo – primavera e verão) e o ara ymã (ou tempo velho – outono e inverno).

Livro
Estas e outras curiosidades podem ser encontradas no livro “O Céu dos Índios de Dourados - Mato Grosso do Sul”, de autoria do professor da UEMS, Paulo Souza da Silva, e Germano Bruno Afonso, do Museu da Amazônia/Musa. A obra traz as explicações em  português e guarani.

Mais conhecimento = Menos preconceito
Para o docente da UEMS, Adilson Crepalde, ao aprender mais sobre uma cultura ou língua pode-se diminuir o preconceito sobre um povo, pois as culturas são formas de pensar, ser e representar que surgem da experiência sócio-histórica de seres humanos com o mundo.
“Por meio do estudo de uma língua, pode-se, pois, refletir sobre costumes, valores e premissas básicas que fazem parte de uma cultura. Podem-se perceber as diferenças entre as culturas. Pode-se entender como esses valores e maneiras de perceber e representar são corporificados pelos membros das diferentes culturas. Podem-se entender os laços emocionais que enlaçam uma cultura e a torna um ninho de pertença. Esses conhecimentos podem desfazer preconceitos e tornar as pessoas mais tolerantes em relação ao outro, ao diferente, pois o outro será percebido no contexto de sua cultura”, disse.
A língua Guarani é ensinada na UEMS, pelo curso de Letras. Está prevista a abertura de uma nova turma em 2016.

Observatório Solar é ciência
A construção deste equipamento é ciência, pois para confeccioná-lo foi exigido uma capacidade de observação organizada, explica o professor Emilson de Souza, “para a construção do Observatório foram anos de observação, um exemplo parecido foi a organização do calendário babilônico, que nós usamos até hoje, demoraram mais de 1500 anos de observação para ser construído. Então não podemos desmerecer esta ciência nem compará-la com a grega, pois são povos em condições completamente diferentes”.

Produzido pelo Projeto Mídia e Ciência UEMS (Fundect)


http://www.portal.uems.br/noticias/detalhes/observatorio-solar-era-aplicativo-de-indios-brasileiros-ha-mil-anos-092746 

http://www.portal.uems.br/noticias/detalhes/curiosidades-do-observatorio-solar-indigena-092830 

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