segunda-feira, 28 de abril de 2014

Estômago forte, risco de doenças e anseio pela verdade, conheça o trabalho de perito criminal

Perito criminal André Kiyoshi - Foto: Ademir Almeida
Eduarda Rosa
Até quinta-feira, 1º de maio, em que se comemora o Dia do Trabalho, o jornal Dourados News irá apresentar uma série de quatro matérias, em que mostraremos algumas profissões que muitas pessoas não gostariam de enfrentar.
O primeiro personagem é o perito criminal André Kiyoshi, de 34 anos, que exerce esta profissão há cinco anos na Unidade Regional de Perícias e Identificação de Dourados, no Núcleo de Criminalística, setor de Perícias Externas. Ele é formado em Ciências Contábeis.

Quando ocorre algum crime ele está lá e não importa o quanto “feio” seja, tem que ter estômago para fotografar e analisar cada detalhe do corpo ou do local do ocorrido. Mas, para ele o trabalho é gratificante, “gosto muito. É gratificante empregar o conhecimento adquirido em prol da justiça e segurança pública, sempre com imparcialidade e na busca da verdade”.
Foto: Osvaldo Duarte
Kiyoshi atua fazendo levantamentos periciais em locais onde ocorrem homicídios, suicídios, acidentes de trabalho, acidentes de trânsito, incêndios, furto de energia, furto qualificado, crimes ambientais, danos, entre outros, além da confecção do respectivo Laudo Pericial. Nas Perícias Internas são realizados exames periciais em veículos, armas de fogo, preliminares de constatação de entorpecentes, documentoscópicos e grafotécnicos, em celulares, em objetos e outros.
Antes de trabalhar como perito atuou na Guarda Municipal de Dourados e como Diretor Financeiro do Instituto de Previdência Social dos Servidores do Município de Dourados.
Ao periciar seu primeiro crime, precisou de estômago forte. “Logo após o almoço, fui requisitado para um exame de corpo de delito em local onde havia achado um cadáver. A vítima, de homicídio, tinha diversas perfurações e encontrava-se em adiantado estado putrefato, pois tinha morrido há três, quatro dias. A imagem da vítima desfigurada pelas lesões e pelo processo natural de decomposição do cadáver, junto ao forte odor e a sensata insegurança de início de carreira, certamente marcaram este primeiro atendimento”, lembrou.
Foto: arquivo pessoal
Este momento foi marcante, contudo ele não foi despreparado, pois após passar no concurso público foi para a Academia de Polícia, em seu curso de formação policial, que proporcionou a ele bagagem teórica e pratica para atuação nos mais variados exames periciais, além de preparação técnica e psicológica para agir com profissionalismo e isenção, mesmo diante de crimes violentos e de comoção. Também nos primeiros meses de trabalho foi acompanhado por um Perito Criminal mais experiente.
Apesar de todo aparato, é impossível ficar totalmente isento, principalmente, quando a vítima é alguém conhecido. “O exame mais marcante foi um acidente de trânsito em que a vítima era uma amiga, com laços fraternos e contato quase que diário. No entanto, dado o impedimento legal, outro Perito Criminal foi requisitado a realizar os levantamentos periciais”, disse.
O que tem difundido a rotina da profissão são as séries de televisão estadunidenses, como o CSI (Crime Scene Investigation), revela o perito.
“Isso é bom e muito positivo à carreira da Perícia Oficial. No entanto, a realidade brasileira diverge em certos aspectos da série, por exemplo: Os “CSI’s” realizam o trabalho equivalente ao dos Peritos Criminais e dos Investigadores de Polícia brasileiros, além (todavia) disporem de equipamentos, técnicas e tecnologias, muitas vezes não acessíveis ao mercado. Desta forma a nossa rotina não é tão glamourosa quanto à ficção, mas gera admiração, respeito e interesse das pessoas”, explica.
Foto: Eliel Oliveira/Diário MS
PERIGOS DA PROFISSÃO
Um perigo da rotina são as doenças que podem ser transmitidas por conta da atividade insalubre, por isso André Kiyoshi utiliza equipamentos de proteção individual, conforme a necessidade.
Além disso, outros estresses estão incluídos no “pacote” dos profissionais em segurança pública. “Enquanto todos se divertem ou dormem, nós trabalhamos, seja dia útil, feriado, de dia ou de noite, faça sol, chuva, frio ou calor. Muitas vezes criticados e outras pouco reconhecidos, deixamos nossas famílias para cuidar das outras. Causa estresse, mas não reclamo, pois apesar disso tenho amor pelo que faço”, ressalta.
O amor é fundamental para a execução de um trabalho bem feito, mas chegar a casa para descansar depois de presenciar um crime bárbaro, não deve ser fácil!?
“Faço uma prece aos familiares e amigos das vítimas, para que Deus conforte vossos corações. Ao(s) autor(es) do crime, uma oração para que o Espírito Santo os incomode profundamente, de modo que se arrependam e aceitem a Jesus como seu único Salvador, seguindo, à partir de então, os seus ensinamentos.”
O trabalho é de muita responsabilidade, assim o maior medo de Kiyoshi é cometer injustiças, “meu medo é de cometer conclusões equivocadas em meus ludos periciais. Deste modo, anseio a manutenção de meus princípios, consoante com uma passagem bíblica. ‘Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça’ (Levítico 19:15)”.
E o que mais choca o perito, não são as cenas que presencia nos locais dos crimes, mas “a inversão de valores, a corrupção, a covardia, a ganância, a mentira, as relações humanas desgastadas (familiares e sociais), as desigualdades sociais, e desrespeito e ausência de amor ao próximo, entre outros fatos geradores de crime”, finaliza André Kiyoshi.
Foto: Osvaldo Duarte
Carreira
Para ingressar nos quadros da Perícia Criminal é necessária a aprovação em concurso público de provas e títulos da carreira Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, ao cargo de Perito Oficial Forense, função de Perito Criminal. As etapas do concurso público são regulamentadas por edital específico, consistindo basicamente nas seguintes fases: prova escrita objetiva, prova de títulos, avaliação psicológica, médica-odontológica, teste de aptidão física, investigação social e curso de formação policial.
No Estado do Mato Grosso do Sul, admite-se os Bacharéis em Análise de Sistemas, Biologia, Ciências Contábeis, Ciência da Computação, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Farmácia, Farmácia-Bioquímica, Física, Fonoaudiologia, Geologia, Medicina Veterinária e Química, com registro no respectivo Conselho Regional da classe.
A carga horária de um Perito Criminal é de 40 horas por semana. O trabalho de André Kiyoshi é em regime de plantão. Neste período, ele fica no Núcleo de Criminalística redigindo Laudos, realizando pesquisas complementares, discutindo técnicas e vestígios apurados em locais de crime com os demais Peritos, e quando é requisitado, desloca-se ao local do crime.
Segundo o perito, uma das principais dificuldades da profissão é a preservação e isolamento em local de crime feito inadequadamente, que dificultam expressivamente, e por vezes inviabilizam, o trabalho da Perícia Criminal. Neste sentido, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, tem realizado cursos de qualificações aos profissionais de segurança pública, bem como definiram procedimentos padrões de atuação em local de crime. Soma-se ainda a este cenário a ausência de cultura de preservação de local de crime, pela população, que mesmo agindo sem intenção, atrapalha as tarefas periciais.

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