sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Entre berçários e explosões: conheça o fantástico mundo do céu profundo

 Por: Eduarda Rosa | Postado em: 23/10/2015
O professor da UEMS, Luís Humberto, se aprofundou nos conhecimentos da astrofotografia
Apesar de se falar muito em planetas, são as estrelas as mais incríveis protagonistas do Universo.  É em torno delas que os planetas ficam e são elas que criam vários espetáculos, tanto quando nascem quanto quando morrem. É um incrível show acima de nossas cabeças, na nossa galáxia e muito além dela.
Apesar de toda esta riqueza, muitas vezes, reduzimos as estrelas a um desenho com cinco, seis ou mais pontas. Mas a verdade é que o Sol, por exemplo, é uma estrela e todas as outras estrelas que vemos no céu a noite também são “sóis”, muito distantes da Terra, o que nos faz enxergar apenas uma pequena fração do seu brilho.

Com a curiosidade, de como fotografar estes e outros astros, o professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Luís Humberto Andrade, especialista em espectroscopia óptica, aprofundou-se, por hobby, no mundo da astrofotografia e no conhecimento sobre o céu profundo.
“Céu profundo”, ele explica, é tudo o que está além do Sistema Solar e dele o que é mais fácil de se ver, a olho nu, são as estrelas. Contudo existem muitos outros elementos como galáxias, nebulosas, estrelas que explodiram, que só são possíveis de serem observados por grandes telescópios ou por meio da astrofotografia.
Berçários
No céu profundo existem muitos berçários de estrelas. Um exemplo é a nebulosa da Laguna, que é uma nuvem de gás, que está na constelação de Sagitário e é uma gigantesca nuvem interestelar.

Nebulosa da Laguna - Foto: Luís Humberto Andrade

“Estes ‘berçários’ são nuvens de gases. Uma estrela é quando todo gás fica junto, então o gás fica tão quente que começa a ter um efeito que é a chamada fusão nuclear – os átomos começam a se fundir um no outro -, liberam mais energia, ficam mais quentes até ter uma estrela, o Sol é assim”, explica o professor.

Outro “berçário”, bem mais famoso, é a nebulosa de Órion que está a cerca de 1,3 mil anos-luz de nós. Podemos encontrá-la na constelação de Órion, próxima do cinturão de Órion. O cinturão de Órion é constituído por 3 estrelas em linha também conhecido como As Três Marias. Estima-se que o diâmetro da nebulosa de Órion seja de cerca de 25 anos-luz.

Nebulosa de Órion - Foto: Luís Humberto Andrade

A nebulosa de Órion é um “berçário” de estrelas, dado que nela estão a ser formadas novas estrelas. Ela é uma nuvem de gás e poeira que brilha devido à luz que absorve de estrelas jovens e muito quentes que estão nessa região. 

“Ela é mais visível no verão, próximo das 23h. Na época de outubro ela está na região próximo da posição do Leste, junto ao horizonte, mas à medida que vai se aproximando o verão ela fica mais ao pico do céu. Em algumas condições muito específicas, com um telescópio amador ou binóculo é possível vê-la, contudo, se ver, não é deste tamanho, é uma manchinha pequena no céu e sem cor”, explicou Andrade.

Muitas estrelas juntas formam um aglomerado globular, como é o caso do 47 Tucanae situado na constelação de Tucana. Está a de cerca de 16.700 anos-luz de distância da Terra, e tem 120 anos-luz de diâmetro.  

47 Tucanae - Foto: Luís Humberto Andrade

Morte
Contudo, como as estrelas nascem, um dia elas acabam morrendo, assim como um dia o Sol também morrerá.  E quando a estrela morre ela se torna um ‘anel’, como é o caso da Nebulosa do Anel – um “Sol” que explodiu. Esta uma nebulosa planetária situada na constelação de Lira que está há 2300 anos luz da Terra.  Segundo o professor, isto significa que se viajássemos a velocidade da luz, demoraríamos 2300 anos para chegar lá, então toda vez que estamos olhando para ela estamos vendo o efeito que aconteceu há 2300 anos.

Nebulosa do Anel - Foto: Luís Humberto Andrade

A Nebulosa do Anel mede, aproximadamente, 2,5 anos-luz de diâmetro e tem a forma de um toro, ou seja, é parecida com uma câmara de pneu de carro. Esta estrela era um pouco maior do que o Sol quando explodiu, por isto quando o Sol morrer, daqui há aproximadamente 100 a 200 mil anos, provavelmente, ficará parecido com esta imagem.
“Antes de morrer a estrela vai aumentando a sua dimensão, todo o material dela se expande, engole tudo o que tem envolta, depois ela se colapsa, esquenta muito, expele tudo para fora de novo e é onde forma esse anel. Quando o Sol explodir vai abranger todo o sistema solar, irá engolir tudo, esquentar tudo, torrar tudo, englobar tudo, tudo começará a se tornar uma mesma massa e ficará no centro dele, será esquentado absurdamente e será jogado tudo isso em forma de uma poeira”, previu.
De acordo com o professor, depois de todos estes processos resta apenas uma pequena estrela no centro, chamada de anã branca, rodeada pelo material expelido. Isto, se a estrela for pequena, entretanto se for muito grande ela se torna um buraco negro. O Sistema Solar é fruto do processo da morte de várias estrelas, pois quando elas morrem formam-se muitos elementos químicos, como oxigênio, carbono, lítio e todos os outros da tabela periódica.
Outro resultado da morte de estrelas é a Nebulosa do Haltere, que foi a primeira nebulosa planetária descoberta e está localizada a cerca de 1200 anos-luz de distância da Terra. A região mais brilhante da nebulosa está se expandindo a uma taxa de 6,8 segundos de grau por século, levando a uma estimativa de 3 a 4 mil anos desde o início da expansão.   
Nebulosa do Haltere - Foto: Luís Humberto Andrade
Com toda esta distância, as estrelas que vemos no céu sempre estão na mesma posição, pois o nosso período de vida é muito pequeno comparado a idade celeste, “dez ou vinte mil anos perante a idade celeste é muito pouco”, ressaltou o Andrade.

A Terra gira?!
Se existisse a astrofotografia na época em que se discutia se a Terra girava, o problema seria resolvido muito rápido, apenas com uma fotografia. Como é o exemplo da fotografia à baixo, em que pode se perceber o movimento circular das estrelas. “Este movimento circular é porque a esfera da Terra inteira está girando. Nós estamos girando, mas as estrelas não. Esta foto foi tirada com o obturador da câmera aberto por 20 minutos. Somente observando as distâncias das estrelas é possível saber que quem gira é a Terra”, explanou.



Na foto, o centro de tudo é no sul celestial, ou seja, o polo sul.  De acordo com o professor esta foto é como se olhássemos o centro de um pião, “o centro parece que está parado, gira só as bordas. O pião é a Terra. Isso mostra que as estrelas são fixas e quem move somos nós.  Se o eu tivesse deixado mais tempo teriam ficado ‘anéis’ no céu”. 

Apreciados a olho nu
A Lua não está no céu profundo, ela é o satélite natural da Terra, mas também é bonita de ser fotografada. Na imagem, a cratera em destaque é chamada de Copernicus. Esta cratera é relativamente jovem, com cerca de 1 bilhão de anos.  

Foto da cratera da Lua - Luís Humberto Andrade


Por meio de cálculos da Física consegue-se saber o tamanho da cratera que tem, aproximadamente, 120 km de diâmetro e cerca de 20 a 30 km de profundidade, que é muito maior que o Gran Queinion. Com um telescópio comum é possível ver esta cratera.  
Além da Lua, também é possível ver Júpiter com um telescópio simples.
Júpiter - Foto: Luís Humberto Andrade
Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar, tanto em diâmetro quanto em massa e é o quinto mais próximo do Sol. Possui menos de um milésimo da massa solar, contudo tem 2,5 vezes a massa de todos os outros planetas em conjunto. Júpiter é um dos quatro gigantes gasosos - junto com Saturno, Urano e Netuno-, isto é, não é composto primariamente de matéria sólida, mas, principalmente, de hidrogênio e hélio. O planeta também pode possuir um núcleo composto por elementos mais pesados. Por causa de sua rotação rápida, de cerca de dez horas, ele possui o formato de uma esfera um pouco achatada (oblata) e sua atmosfera é dividida em diversas faixas, em várias latitudes
“Muitas pessoas olham Júpiter num telescópio convencional e acham que vão vê-lo colorido e se espantam em vê-lo preto e branco. Isto acontece porque o nosso olho, numa região onde tem baixa luminosidade, não consegue distinguir cores, isto é uma limitação da nossa anatomia, mas as cores estão lá, mas é como procurar uma roupa colorida num quarto escuro. Quando você faz uma fotografia aí se consegue ver as cores. As cores estão lá, elas não foram criadas pelo instrumento”, explicou. 
Outras galáxias
Todos estes elementos estão dentro da Via Láctea, a Galáxia em que o Sistema Solar está inserido, mas o professor Luis Andrade também conseguiu tirar uma fotografia da Galáxia do Redemoinho. Esta é uma galáxia espiral, que tem uma galáxia companheira, denominada NGC 5195 ou M51B. 

Galáxia do Redemoinho - Foto: Luís Humberto Andrade

“A maior está sugando todo os elementos da outra que é menor e com o passar do tempo ela vai se deslocar, ficará distorcida e vai acabar se tornando uma só. São dois redemoinhos que estão se juntam no outro, vira uma bagunça, até que eles se reorganizem depois”, ilustrou Luís Humberto.

Astrofotografia
Para praticar astrofotografia é preciso ter um conhecimento “básico” do céu, para saber onde estão os elementos, além disso é preciso ter um telescópio adequado, fixo, porque para tirar este tipo de fotografia é preciso ter bastante estabilidade, um sistema de detecção adequado e uma câmera especial para esta finalidade. 
E na Astrofotografia nem tudo é instantâneo, é preciso processamento para captar as imagens. O professor ainda explica que, por exemplo, na foto de Júpiter foram combinadas 180 fotos, “cada foto dessa é rápida para ser tirada, menos que 1 segundo cada foto, só que para selecionar 180 fotos tem que tirar cerca de 700 fotos, porque a atmosfera tem movimento. A foto é um mosaico de pixels colorido”.
Um programa é utilizado para que o telescópio acompanhe o movimento do céu, para isto é selecionada uma estrela. Se a estrela se move, o programa corrige o telescópio.
O professor também alerta que para se tirar uma boa foto em astrofotografia não é importante o quanto o instrumento aumenta, mas sim a sensibilidade e resolução do equipamento.

Onde estudar
 O estudo da astronomia é um ramo da Física. A UEMS oferece o curso de licenciatura em Física na unidade de Dourados, nele o aluno ter uma noção superficial sobre o assunto, mas pode se aprofundar se tiver interesse.
Já a técnica da astrofotografia ou de desenvolver instrumentos capazes de facilitar a visualização destes elementos é explorada na Engenharia Física, bacharelado também oferecido na unidade da UEMS de Dourados.

Produzido pelo Projeto Mídia e Ciência UEMS (Fundect)

Publicado em: http://www.portal.uems.br/noticias/detalhes/entre-bercarios-e-explosoes-conheca-o-fantastico-mundo-do-ceu-profundo-113156

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