Josephina Fernandes Capilé é a primeira homenageada do Dourados News na semana da Mulher - Foto: Eduarda Rosa
Eduarda Rosa
“Vovó”. Está é a forma como dona Josephina Fernandes Capilé é tratada pelas suas 220 crianças, na Creche André Luiz, localizada na Vila Amaral, em Dourados.
Aos 76 anos, Josephina encara sua batalha diária, de manter a creche funcionando com tudo de melhor para os ‘netinhos’, das 5h30 às 18h. Segundo ela, a história começou há 33 anos e seu marido, Flamarion Capilé, falecido há três, embarcou no sonho de vida da esposa: cuidar de crianças carentes
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Corumbaense, ela não pensava em sair de sua terra, mas teve que se mudar para Dourados para cuidar dos sogros. Quando chegou, não simpatizou muito com a cidade e a achava cheia de lama e poeira. Então precisava de uma ocupação. Seu marido logo teve a ideia de fazer sopa para distribuir para os carentes em sua residência, localizada próximo à rodoviária, atendendo mais de mil pessoas.
É chamada de vovó pelas crianças - Foto: Eduarda Rosa
O espaço já era pequeno então com a doação de um terreno, feita por Adiles do Amaral Torres, poderia fazer um barracão para distribuir o alimento. Contudo não queria mais só fazer a sopa, queria ajudar mais as pessoas, queria mesmo construir uma creche! “Fazia tempo que eu tinha isso em mente, na minha cidade tinham duas creches imensas, e como eu não fui criada pelos meus pais, toda vida eu falava que quando crescesse iria trabalhar com criança”, recordou.
Procurou a prefeitura, mas a administração da época não tinha recursos para ajudá-la, então ao sair de lá disse, “vai ter que vir uma corumbaense para fazer a primeira creche em Dourados!”, e seu marido, com um sorriso a apoiou, “vamos a luta!”, conta Josephina.
Dona Josephina tem 28 funcionários, dentre eles professoras pedagogas, recreadoras, cozinheira, faxineira, ajudante de cozinha, professores de Ed. Física e capoeira. - Foto: Eduarda Rosa
E foram... aproveitaram a oportunidade de que há 30 anos não haviam buffets e trabalharam cozinhando e limpando leilões em exposições agropecuárias. Como recompensa pelo trabalho, ganhavam um animal, que era leiloado e o dinheiro doado para a construção da creche. “Muitas vezes quem arrematava doava novamente para a creche, então esse dinheiro era para pagar os pedreiros todos os sábados”.
Batalharam e com doações de toda sociedade douradense construíram a creche em seis meses. Contudo faltava o piso e os móveis, mas não tinham mais de onde buscar recursos, “daí surgiu a Cleideluce, que era amiga do cantor Nei Matogrosso. Nós ligamos para ele e contamos a situação da creche e ele quis nos ajudar. Fez um show em Bauru (interior de São Paulo) e todo o dinheiro arrecadado foi doado para a construção. Quando acabou o show ele me chamou e perguntou, ‘quantas crianças nós vamos poder atender na creche?’, eu respondi que o espaço era pequeno, cerca de 50 a 60 crianças, ele negou e disse, 'a primeira creche de Dourados não pode atender só isso, compre o terreno do lado’, tirou o dinheiro do bolso e me deu para comprar o terreno”, contou dona Josephina.
Ela adquiriu o terreno e as construções foram feitas. No dia 27 de dezembro de 1980 a Creche André Luiz foi inaugurada e começou atendendo 167 crianças.
Josephina conta com alegria que o PAI (Pronto Atendimento Infantil) de Dourados receberá o nome de seu falecido esposo, Flamarion Capilé. - Foto: Eduarda Rosa
Na época, além das salas de aula, foi feito um salão simples, por falta de recursos, mas o sonho de melhorar a estrutura continuava. Com a morte de Flamarion Capilé, em 2010, todos achavam que ela iria desistir da creche, “desisti apenas da sopa, mas da creche jamais! Todo mundo achava que o sonho era dele, mas o sonho era meu!”, ressalta.
Ela continuou e quando fez um ano que seu esposo faleceu, arregaçou as mangas e foi atrás do antigo projeto, arrumar o salão, “ele não tinha coragem de enfrentar porque o dinheiro que tínhamos era pouco, mas o Ministério Público do Trabalho fez uma doação e conseguimos construir o salão. Depois de mais um ano reformei a creche inteira”, disse.
André Luiz seria o nome de seu filho, se Deus assim tivesse permitido, mas além de sua filha biológica, Deus deu muito mais que um André Luiz em sua vida, deu diversos Andrés Luizes para que ela cuidasse e acompanhasse o crescimento.
Seu desejo é que Deus lhe dê saúde para continuar trabalhando, “eu adoro meu trabalho, isto aqui é minha vida, os finais de semana são muito tristes sem estar com os meus pequeninos”, finaliza a notável e carinhosa, Josephina Capilé.
A Vovó foi uma das Notáveis homenageadas pelo prêmio concedido pelo Diário MS, em 2012. “Fiquei muito feliz com o prêmio, minha filha me enganou para eu ir à festa, quando me chamaram eu tremia demais... quase não consegui subir as escadas... (risos)”, contou.- Foto: Eduarda Rosa
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