terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Há 133 anos, Família de Brasiguaios realiza Folia de Reis


Eunice com a estátua de Santo Reis, que há 138 anos foi feita por seu avô. Ela conta que a espada e botões eram de ouro, mas foram roubados. - Foto: Eduarda Rosa

Eduarda Rosa

Tradição, amor, devoção e fé. Esses são os elementos que não deixam a Folia de Reis morrer na Família Benitez. A tradição atravessa gerações e nesse ano será realizada pelo 133º vez consecutiva.


A folia é organizada por Eunice Benitez Ortiz, de 62 anos, que herdou a incumbência de preparar a festa do avô, Benito Benitez. Ele nasceu em Belém, assim como Jesus, e se chamava Mustafá. Ao naturalizar-se paraguaio para casar-se com sua avó, que era paraguaia, mudou de nome. “Meu avô fez uma promessa no tempo da revolução do Paraguai, ele prometeu que se saísse vivo dessa encrenca faria a festa para os três reis magos a vida toda”, conta a neta.

Benito Benitez realizou a festa por 88 anos e antes de morrer, aos 106 anos, passou a bandeira da Folia para Eunice. “Mas como ele tinha outros filhos mais velhos era conveniente que a bandeira ficasse para os filhos, aí eu comecei a ajudar, contudo todos morreram e ficou para mim a bandeira. Faz 35 anos que eu organizo a Folia”, lembra.

 Bandeira de Eunice Benitez - Foto: Eduarda Rosa
Bandeira deixada por Benito Benitez. A bandeira é repassada no fim da vida para um parente próximo que siga a tradição - Foto: Eduarda Rosa
Origem da Folia
A Folia de Reis é uma comemoração pelo nascimento de Jesus e em homenagem ao Santo Reis. Eunice narra que por conta do nascimento de Jesus em Belém da Judéia vieram alguns magos do oriente de Jerusalém para visitar o menino. Contudo antes de encontrarem-no visitaram o rei Herodes e perguntaram “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo”. Isso perturbou Herodes, que orientou os magos a irem a Belém e quando encontrassem Jesus o avisasse, para que ele pudesse ir adorá-lo.
Foto: Eduarda Rosa
Os reis magos, que eram os adivinhos da corte, tiveram um sonho com o anjo Gabriel que falava “Vocês vão disfarçados até chegar ao presépio, vão andar do dia 24 dezembro a 06 de janeiro e vão achar menino, vocês serão guiados pela estrela, um anjo vai ir mostrando o caminho para vocês”, conta.
Então os reis magos foram disfarçados de palhaços para ninguém os reconhecer, por que se não Herodes iria mandar matá-los. Após verem o menino e ofereceram os presentes, Jesus e seus pais fogem para o Egito, porque o rei procurava o menino para matá-lo. Depois disso nunca mais ninguém ouviu falar dos três reis magos.
Foto: Arquivo/Rádio Coração
A Folia
Mesmo com problemas cardíacos e artrose, desde o dia 24, a foliona Eunice sai com 15 romeiros de sua comunidade por cidades vizinhas e distritos de Dourados. Chegam de casa em casa fazendo de conta que estão procurando o menino Jesus, e cantam “Dá licença patrãozinho, dá licença para entrar, a bandeira de Santo Reis veio te visitar”, o dono da casa abre a porta, eles entram e cantam, já se não são aceitos vão para outra casa. “Nós cantamos para a pessoa fazer a doação, se ajuda, a gente canta outra vez para agradecer e convidar para a festa”, lembra Eunice.
Foto: Arquivo/Rádio Coração
Os romeiros buscam arrecadações para a festa de Santo Reis, que é comemorada no dia 06 de janeiro, na Rua em frente à casa de Eunice, “antes nós fazíamos dentro do salão da igreja, mas não cabe mais, então com apoio policial nós interditamos a rua e realizamos a festa, só no ano passado eu comprei 500 pratos e faltaram”.
Ela não mede esforços para realizar os festejos “eu planejo tudo antecipadamente, o que não ganho eu tiro do meu bolso”. Afinal, esta é uma tradição que veio para toda a vida, “tenho essa missão, faço em memória do meu pai, mãe, avôs, irmãos e tenho que continuar até morrer, depois não sei quem vai continuar”, conta a romeira.
Foto: Arquivo/Rádio Coração
Foto: Arquivo/Rádio Coração
Tudo que é arrecadado é preparado para o dia da festa. “Quando chegarmos com o Santo Reis na festa, vai ter queima de fogos, a reza do terço, o jantar e a dança na rua, até a hora que os músicos cansarem. Todo ano é assim, é uma alegria só”, conta a entusiasmada foliona, que ressalta que só quando a festa termina é que os reis magos disfarçados de palhaços tiram as máscaras.
Eunice não esconde a emoção e o orgulho ao dizer que sua folia faz parte da cultura douradense, “é uma cultura, uma memória, uma recordação e já quase ninguém faz mais, em Goiás e na Bahia fazem e aqui eu Dourados sou eu.”
Para fazer doações e/ou participar da festa procure por Eunice Benitez na Rua Paisandu, 1578, no Jardim Guanabara, próximo ao supermercado Pérola.
Foto: Arquivo/Rádio Coração

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