quarta-feira, 19 de março de 2014

Nos trilhos do desenvolvimento: Itahum, a Eldorado esquecida

Vista aérea do distrito de Itahum - Foto: Ademir Almeida
Eduarda Rosa
Sem o barulho dos apitos diários dos trens, a sonhada cidade de Eldorado, de Antônio Vicente Azambuja, 'caiu por terra' com a desativação da ferrovia, como escrito na primeira reportagem desta série 'Nos trilhos do desenvolvimento': o auge do distrito de Itahum.
Assim, o distrito de Itahum se tornou pacato, calmo e até um pouco sem vida. Sem a movimentação de carga e descarga de madeiras o que sobrou foi a pecuária e depois a agricultura tornou-se mais forte. Isto fez com que o local se tornasse um grande produtor de grãos e contribuísse para a economia do município de Dourados. Outro fator que fez com que Itahum ressurgisse foi a implantação dos assentamentos Amparo e Lagoa Grande.

Segundo o aposentado, Antônio Carlos Dagel, 75 anos, a vida que tinha em Itahum era a estrada de ferro, “enquanto a ferrovia deu movimento, deu mão de obra. Vinha muita gente de fora para tirar lenha, depois que a madeira foi acabando ficou o gado, mas não dá mão de obra para muitas pessoas. Naquela época nem se falava em agricultura no campo, pois se tivesse teria se desenvolvido como Dourados”, lembrou.
 
Maria José Lins é diretora da Escola Estadual Antônio Vicente Azambuja - Foto: Ademir Almeida
A diretora da Escola Estadual Antônio Vicente Azambuja, Maria José Lins, 51 anos, que mora há 26 anos no distrito, acompanhou a etapa da desativação da estrada de ferro e viu a tristeza da comunidade neste período.
“Itahum era mais animado, mais alegre, cheio de gente, hoje temos uma população razoável, de 4 mil pessoas, mas a maior concentração está na zona rural, nas fazendas, assentamentos, dentro da vila são poucos. Hoje a gente percebe um Itahum pacato, parado, sem muito sabor”, ressalta a diretora.
A secretária da escola estadual, Dalva Marques Machado, testemunhou o período, “foi uma tristeza só em 1982, não se via ninguém nas ruas, antes tinha banco e até cinema era bem mais movimentado”, disse.
Eraclides de Lima Damacena chegou ao distrito em 1985 - Foto: Ademir Almeida
O comerciante Eraclides de Lima Damacena, 72, chegou ao distrito em 1985 e conta que o movimento era o dobro do atual, “com o fim da ferrovia amorteceu tudo, foi um fracasso! Ali carregava e descarregava muita coisa, muitos produtos, depois muitas pessoas foram embora daqui”.
Mesmo com o fim da movimentação da estrada de ferro, a plantação de lavouras fez com que melhorasse o local, “foi melhorando, os dois colégios tem muitos alunos, isso ajuda muito o lugar, sempre tem o movimento. Minha freguesia é calma, mas é firme”, relatou o comerciante.
Comunidade
Ao longo dos anos que mora na comunidade a diretora, Maria José, viu muitas pessoas tentando trazer a mudança para alavancar o distrito, mas as intervenções foram poucas, “Itahum é um lugar esquecido, vez em quando aparece alguém com um olhar especial para a gente, mas é de vez enquanto, raramente”, lamentou.
A estação ferroviária foi tombada como patrimônio histórico de Dourados - Foto: Ademir Almeida
Segundo Maria José uma das maiores perdas do local foi quanto ao transporte, porque hoje a comunidade tem mais dificuldade ir até Dourados ou às cidades vizinhas, “hoje a comunidade é atendida pela empresa Cruzeiro do Sul e a Medianeira, com horários que não condizem com a nossa realidade: a Cruzeiro do Sul passa às 9h30 para Dourados e sai da rodoviária às 15h; e a Medianeira sai daqui às 8h e retorna 14h30. É difícil quando temos que ir ao médico ou em algum órgão público... ou vem embora 14h30 / 15h ou tem que ficar lá, carona para Itahum não se acha”, contou.
De acordo com a diretora um dos maiores anseios da comunidade é transformar a área da ferrovia tombada como patrimônio histórico de Dourados, em um museu, para resgatar a cultura ferroviária. “Além do local da ferrovia existem várias casas que também eram da companhia, elas poderiam ser adaptadas para centros comunitários, clube de mães, reuniões da comunidade – para a gente ter um ponto de referência da comunidade”, sugeriu.
Ela elogia a área da educação e os comércios de mercados e farmácia, contudo reclama que o posto de saúde local precisa ser reformado e que necessita de um pediatra para atender a comunidade, pois só há um clínico geral para atender a população.
“Aqui são fortes a agricultura e a educação, mas a agricultura é prejudicada por conta dá má estrutura das estradas, nós temos situação de agricultor que não onde armazenar a soja e não tem como tirar da fazendo, porque causa da estrada que não ajuda”, disse a diretora da escola estadual.
O vagão que restou próximo a estação poderia se tornar uma biblioteca, sugerem os educadores do local - Foto: Ademir Almeida
Prefeitura
Em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Dourados a redação foi informada que sobre a estação ferroviária, a Secretaria de Cultura já enviou um projeto para o governo federal, mas como é de propriedade do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), não possui a documentação, então o o projeto não foi aprovado.
Sobre investimentos em asfalto não há ainda nenhum recurso garantido para atender o distrito. Mas na área de saúde, o posto será reformado e a prefeitura vai abrir licitação em breve. Também será construída uma academia de saúde, cuja obra deve começar até abril.
Já sobre os horários de ônibus, esta foi a primeira reclamação que a Agetran (Agência de Transporte e Trânsito) recebeu. Então a agência irá analisar se existe demanda para outros horários que os moradores solicitam e em breve dará uma resposta.
O projeto para revitalização do prédio da estação não foi aprovado pelo governo federal - Foto: Ademir Almeida
O que melhoraria Itahum?
Para Maria José, se a ferrovia voltasse a passar pelo vilarejo a vida renasceria, “ia dar uma guinada, pois a ferrovia hoje vai gerar emprego e vai gerar renda, pela questão de escoamento de safra, de movimentação, da economia local... para a gente seria excelente”, exclamou.
O comerciante, Eraclides Damacena, acredita que para Itahum melhorar seria necessário virar município, “ este é o início da conversa, pois estamos há 65 km de Dourados e seria interessante que tivéssemos mais investimentos na região. Contudo as pessoas que moram aqui não querem, porque daí vão ter que pagar IPTU. Mas acho que mais cedo ou mais tarde o povo vai ter que entrar na realidade”.
E o aposentado, Antônio Dagel, crê que a cidade poderia voltar a crescer se a ferrovia passasse, contudo precisaria de mais postos de trabalho e indústrias, “muitas pessoas vão para Dourados, porque aqui não tem trabalho, quem mantem o pessoal adulto são duas fazendas, os assentamentos também ajudam um pouco, mas enquanto não tiver lugar para trabalho, o lugar não cresce”, enfatizou.
...
Os apitos pararam de soar no distrito e não há previsão de retorno, contudo Dourados deverá se tornar um entroncamento ferroviário com as estradas de ferro da Ferroeste e Norte-Sul, que poderão alavancar ainda mais a economia da região. Confira este assunto amanhã, na terceira e última reportagem desta série.
O prédio da estação ferroviária está abandonado - Foto: Ademir Almeida

http://douradosnews.com.br/dourados/nos-trilhos-do-desenvolvimento-itahum-a-eldorado-esquecida

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Debutante, cadela ganha bolo e foto em homenagem aos 15 anos de cãopanheirismo

Princesa vestida como tal, cachorra teve bolo e velinha no aniversário de 15 anos. (Foto: Eduarda Rosa) Paula Maciulevicius Um dia...