Cleonice e Pedro - Foto: Adriano Moretto
Eduarda Rosa
O sonho de ser mãe de muitas mulheres as vezes é dificultado por problemas de saúde, assim algumas partem para o processo de adoção. A partir desta decisão, não são os nove habituais de espera antes de um parto, mas, dependendo da idade da criança desejada pode passar de quatro anos. Atualmente em Dourados, 42 casais esperam na fila para adotar uma criança.
Nesta reportagem o Dourados News conversou com duas mães, uma na fila da adoção pela primeira vez e outra que já realizou o processo e quer outra filha.
Sônia Lima de Souza Carvalho, 31 anos, casada, sempre quis ser mãe, mas por ter síndrome dos ovários micropolicísticos não conseguiu engravidar, mesmo fazendo diversos tratamentos e duas inseminações artificiais. “A única chance seria a fertilização in vitro, que só tem em Campo Grande, mas como já vinha de vários tratamentos frustrantes optei por desistir e entrei no processo de adoção”, lembrou Sônia.
Há um ano e dois meses na fila, o tempo de espera é doloroso. “É maior [a espera] por que queremos um bebê. Existem muitas crianças maiores, mas não é o perfil que queremos, pois optamos pelo recém-nascido para poder ensiná-lo desde pequenininho”.
Apesar do tempo de espera ser de ansiedade, para Sônia está sendo bem mais tranquilo do que os tratamentos que não deram resultado. “Pode até demorar, mas quando vier ninguém pode tirá-lo de mim. Estou bem mais contente, bem mais feliz agora!”
Ela também reflete sobre outro lado da história. Agradece as pessoas que tem coragem de doar seus filhos, “o que seria das mulheres que não podem gerar seu próprio filho?”. Mas ressalta que aqui na região as pessoas pensam que doar o filho é crime, “se não tem condição de criar não é crime doar, crime é abandonar, jogar no lixo, fazer aborto”.
Para ela ser mãe é dar continuidade a uma geração, “mesmo não tendo nascido de mim terá os meus traços, pois eu vou criar é alguém que vai contar minha história, é um pedaço meu. É muito triste viver, crescer e envelhecer sem ter um filho”.
Sônia e seu marido já fazem planos, “terá que ser santista como o pai”, brinca. Já Cleonice Rosa da Silva Vasconcelos, 36 anos, passa o dia brincando com o pequeno Pedro, que quando chegou tinha um ano e seis meses, e já renovou o cadastro para adotar uma irmãzinha para brincar junto com a criança.
Há 15 anos, Cleonice perdeu um casal de filhos, que tinham um e dois anos, após caírem em um buraco com água e morrerem afogados. Anos depois se casou novamente, mas não pode engravidar, pois tinha as trompas entupidas e não conseguiu fazer o tratamento necessário.
Certo dia foi com a mãe ao Ministério Público e viu um cartaz sobre adoção, se interessou, mas quando conversou com o esposo sobre a possibilidade ele não quis. Ela deixou para lá, até que certo dia seu marido saiu e quando voltou avisou a que a primeira reunião para adoção seria no dia 03 de março de 2010. “Eu fiquei muito surpresa e muito feliz”, disse.
Fez os cursos e participou de todas as reuniões, após dois anos e dois meses de espera... “Quando estava na época de renovar o cadastro, no dia 26 de outubro de 2012, a assistente social pediu para que o meu marido levasse os papéis e eu fosse junto. Ela conversou com ele por um longo tempo, depois me chamaram e ela me mostrou a foto do Pedro, quando olhei foi paixão a primeira vista, eu pensei ‘esse é o meu filho! ’”.
Conheceram Pedro no dia seguinte e ficaram com ele por duas horas, na sexta-feira, e no domingo foram visitá-lo novamente.
Iam pegá-lo para passar o feriado com eles, mas tiveram a grande surpresa de ter a guarda provisória do menino e o levaram para casa 31 de outubro de 2012. Há sete meses o Pedro vem mudando a vida deles.
“Quando chegou a casa transformou a vida da gente, é o filho do nosso coração, é um presente de Deus! O dia das mães era muito triste, por que eu lembrava dos meus dois filhos que eu tinha perdido, mas esse será o primeiro dia das mães que eu vou passar com ele. É um presente de Deus na minha vida, nossa alegria, felicidade, nosso tudo. Não saiu de dentro de mim, mas é como se fosse! Quando me chamou pela primeira vez de mãe foi uma alegria e emoção enorme, chorei muito!”
A experiência da fila é inexplicável, de acordo com a mãe, mas é preciso acreditar e ter fé que acontece. “Foram dois anos e dois meses, parece que nunca ia chegar a nossa vez, mas quando senti o calor do meu filho nos meus braços... uma emoção que só Deus sabe, coração bate forte. Essa criança transformou a vida da gente!”, disse emocionada.
Cleonice espera já há seis meses na fila por uma menina, que pode ser de um a cinco anos, afinal, segundo ela, as crianças crescem durante o processo por isso adotar um bebê é muito difícil. Mas já marinheira de segunda viagem tem menos ansiedade, “a ansiedade é menor por que já temos o Pedro com a gente e é nosso para sempre”.
“Ele pode não ter o meu sangue, afinal não foi eu que dei a luz a ele, mas foi ele que deu a luz a mim e tirou a tristeza da minha vida. Vejo a minha felicidade no rostinho dele, é muito maravilhoso, é mágico!”, finalizou a mãe que irá passar o primeiro dia das mães ao lado de seu presente.
Originalmente publicado em: http://www.douradosnews.com.br/dourados/adocao-na-fila-para-ter-um-filho-maes-podem-esperar-ate-quatro-anos
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